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Artigo investigativo: Ramatis pode nem existir outubro 12, 2011

Posted by arturf in Annie Besant, Blavatsky, Hercílio Maes, Leadbeater, Teosofia.
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Não é de hoje que muitos que acompanharam e ainda acompanham os ditados atribuídos a um espírito conhecido como “Ramatis” cogitam da hipótese do mesmo sequer ter existido. Tal possibilidade, inicialmente, não nos pareceu digna de análise, mas como temos a obrigação de investigar em constante busca pela verdade, fomos atrás dos possíveis sinais que indicassem ser esta uma hipótese provável.

Surpreendentemente, na medida que fomos avançando em nossa pesquisa, verificamos que há muitas evidências que indicam ser Ramatis e seus ditados, especialmente aqueles constantes das obras do “médium” Hercílio Maes, um reflexo, uma cópia das ideias abraçadas pelo citado médium.

Vejamos alguns pontos importantes a serem analisados:

1 – Hercílio Maes, o primeiro indivíduo a afirmar receber mensagens desse “espírito oriental”(?), veio a se dizer “espírita” somente após a publicação dos livros atribuídos a Ramatis, em cujas fichas catalográficas constam como sendo “espíritas”. Antes disso, o mesmo afirmava que era adepto da Teosofia, doutrina que, mais adiante, verificaremos que possuirá todos os seus principais postulados defendidos nas obras atribuídas ao espírito Ramatis.

2 – Hercílio Maes adotou, enquanto esteve encarnado, uma postura perante as religiões e doutrinas idêntica àquela propugnada por Ramatis: além de Teosofista, como dissemos, também era Rosacruciano, depois tornando-se “espírita”, promovendo uma miscelânea idêntica a que Ramatis incentiva em seus livros a título de “universalismo“.

3 – Hercílio Maes era um vegetariano radical, daqueles que considerava grave delito espiritual o consumo de carne. Tal noção foi igualmente repetida à exaustão em seus livros “psicodatilografados”, o que não verificamos nas obras de outros médiuns que afirmam ser intermediários de Ramatis. Leadbeater, um dos autores teosóficos mais mencionados por ele nos rodapés de seus livros, era igualmente radical defensor do vegetarianismo.

4 – Tal qual informamos acima, Hercílio Maes dizia receber as mensagens de Ramatis através da inspiração, sendo que não se utilizava de lápis e papel, e sim de uma máquina datilográfica, para transcrever tais mensagens advindas, segundo ele, de sua mediunidade inspirativa.

No entanto, segundo “O Livro dos Médiuns” (cap. XV, item 182), “médium inspirado é toda pessoa que recebe, seja no estado normal, seja no estado de êxtase, pelo pensamento, comunicações estranhas a suas ideias pré-concebidas. Ora, assim sendo, falta em Hercílio Maes justamente esta característica fundamental da mediunidade inspirada, modalidade de mediunidade intuitiva, que é a desconexão entre as ideias do médium e as do espírito comunicante. Não é possível distinguir, como verificaremos mais adiante, o pensamento de um e de outro, porque o segundo repete ipsis literis as opiniões e ideologias do primeiro, o médium. Os ditados atribuídos a Ramatis, ao contrário do que se prevê e espera na mediunidade inspirada, não estavam fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium. (Ver LM, Cap. XV, item 180)

5 – Outro fator digno de estranheza é o histórico atribuído às pregressas encarnações de Ramatis. Afirmava Hercílio Maes que Ramatis teria sido um instrutor em um santuário iniciático na Indochina do século X d.C, falecendo ainda cedo. Em vida no século IV teria participado dos acontecimentos narrados no poema hindu Ramaiana, o que não parece fazer sentido uma vez que esses contos épicos hindus são puramente alegóricos, não se ocupando nem de fatos, nem de personagens reais. Além disso, não há qualquer registro histórico ou tradição que sequer mencione a existência do suposto grupo iniciático fundado por um instrutor chamado Rama-tys. Este, portanto, ao que parece, nada mais seria do que o alterego (do latim alter=outro, egus= eu) de Hercílio Maes, que para dar credibilidade e anonimato à autoria de seus escritos, em dado momento, propositalmente ou não, “cria” uma entidade espiritual ao qual delega sua representação.

Notemos, agora, as notáveis semelhanças entre o que afirma Ramatis e os conceitos da Teosofia, doutrina abraçada pelo médium Hercilio Maes.

1 – A tese da elevação do eixo da Terra

Um dos carros-chefe dos livros de Hercílio Maes/Ramatis, que praticamente nem é abordado em livros de outros médiuns daquele espírito, é a tese de que a Terra sofreria uma elevação de seu eixo, causando uma série de calamidades e transformações nas condições de vida na Terra. Tal teoria não é nova. A obra intitulada “A Doutrina Secreta” (1888), de Helena Blavatsky, co-fundadora da Sociedade Teosófica, já a defendia e atribuía sua origem a “ensinamentos antigos”. Tal qual Ramatis reproduziria em seus livros, Blavatsky relata que acontecimentos igualmente assombrosos no passado teriam dado fim às mitológicas Atlântida e Lemúria, berços de sociedades hiper evoluídas.

2 – Jesus e Cristo como entidades distintas

A afirmação de Ramatis, inteiramente contrária ao que ensina a Doutrina Espírita, de que Jesus fora um médium de Cristo, não é nova. Novamente verificamos que é no Teosofismo que originalmente encontramos a defesa dessa tese. O Teosofismo afirma que Jesus e Cristo são pessoas distintas e que Cristo usou o corpo de Jesus quando este abandonou o seu corpo. Infelizmente, como boa parte dos “espíritas” não conhece a Codificação, a “revelação” de Ramatis pareceu, nos idos dos anos 50, inteiramente crível e doutrinariamente correta.

3 – Vocábulos utilizados na Teosofia

Todos os termos consagrados pela Teosofia estão presentes nas obras de Ramatis, em detrimento dos termos espíritas, comprovando aí a intrínseca relação do médium com a Teosofia, e não com o Espiritismo. Alguns desses termos são: “chakra”, “karma”, “corpo astral”, “plano astral”, “miasmas astralinos”, etc. O mesmo ocorre com relação a algumas concepções relativas à Criação, como o “Manvantara” (período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que ocorre atividade que dura, segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 de anos), e o “Ciclo de Brahma”, mencionados e descritos no livro “Mensagens do Astral” e em outras obras atribuídas a Ramatis escritas por Hercílio Maes. Uma repetição sistemática daquilo que se estuda na Teosofia.

4 – Bibliografia indicada

É comum verificarmos nos rodapés dos livros de Hercílio Maes/Ramatis menções e estímulo à leitura de livros teosóficos, como os de C.W. Leadbeater e Annie Besant. Vemos daí, mais uma vez confirmada, a ligação entre o médium e as ideias teosóficas, reproduzidas em suas obras e atribuídas a um espírito de nome Ramatis.

5 – Superioridade Oriental

Também está presente nas obras de Hercílio/Ramatis uma constante alusão à uma pretensa superioridade das doutrinas orientais e de seus adeptos e representantes, tal qual nas obras teosóficas. Ramatis, da mesma maneira, chega a afirmar que o Espiritismo desaparecerá caso não sorva os inesgotáveis ensinamentos dos movimentos orientalistas.

6 – A Vida no Planeta Marte

Mais um carro-chefe das obras de Ramatis em que verificamos enorme semelhança com obras teosóficas. Mais uma vez, a suposta dupla Hercílio-Ramatis expõe uma posição teosófica e a apresenta como uma verdade espírita e/ou científica. Hercílio-Ramatis novamente retira das obras do teósofo Leadbeater o conteúdo para seus escritos psicodatilografados, e, o que é pior, apresentando-as como suas e confundindo o meio espírita, principalmente os que não aprofundaram conhecimentos na Codificação. A descrição de Marte feita por Hercílio/Ramatis é idêntica àquela dada anos antes por Leadbeater no livro “Vida em Marte segundo a Teosofia”. Confiramos:

1 – Marte não seria um planeta inóspito; tão pouco seria desabitado. Menor que a Terra, Marte seria mais avançado em termos “astrofísicos” (vemos que até a terminologia utilizada é a mesma);

2 – Seu solo seria fértil e teria exuberante vegetação. A população atual, pouco numerosa, ocuparia as regiões equatoriais, onde a temperatura seria mais elevada e ainda existem reservas de água. O grande sistema de canais que pode ser observado pelos astrônomos da Terra seriam muito antigos, estaria desativado e teria sido construído, por gerações passadas, a fim de aproveitar o degelo anual das camadas de gelo que ocorria na antiguidade marciana. Os canais ativos, segundo Leadbeater e Hercílio-Ramatis, atualmente, não são visíveis para os telescópios terrenos. Eventualmente, um cinturão verde poderia ser visto ao longo da área habitada, na estação em que a água flui pelos dutos. A vida em Marte dependeria dessa estação tal como o Egito dependeu, no passado e ainda hoje, das enchentes do Nilo. Esta parte do planeta possuiria florestas e campos cultivados que somente podem ser debilmente visualizados pelos terráqueos quando a posição de Marte se torna relativamente mais próxima da Terra. Leadbeater afirma, ainda, que em Marte o Sol parece ter a metade do tamanho que tem quando visto da Terra. Apesar disso, na porção habitada do planeta o clima seria agradável com temperaturas diurnas em torno de 70 graus Fahrenheit (33º Centígrados) e noites frias. Nos céus de Marte, quase nunca há nuvens. Também seriam raríssimas as chuvas ou precipitação de neve. As variações climáticas praticamente não existiriam. Tudo isso é repetido quase que ipsis literis na obra de Hercílio Maes;

3 – Hercílio-Ramatis simplesmente repetem as “informações” de Leadbeater na obra “A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores”, e afirmam que a aparência dos marcianos não seria muito diferente da nossa a não ser pela estatura. Os mais altos chegariam a 1,65m de altura e teriam a caixa torácica muito desenvolvida. Toda a população marciana seria constituída de uma só raça sem grandes diferenças aparentes exceto, como entre nós, o fato de alguns serem louros e outros morenos. Alguns possuem a pele amarelada e os cabelos negros; a maioria, porém, tem cabelos louros e olhos de tonalidade azul ou violeta. Suas roupas seriam coloridas e brilhantes e ambos os sexos trajam vestimentas semelhantes, túnicas longas feitas de material leve. Geralmente, andam descalços mas, ocasionalmente, usam sandálias metálicas fixadas por tiras na altura dos tornozelos.

Tal qual lemos na obra de Leadbeater, Hercílio-Ramatis afirma que os marcianos apreciam as flores que existiriam em grande variedade no planeta; as cidades seriam planejadas nos moldes de um jardim. Suas casas, estruturadas em módulos padronizados, seriam cercadas de canteiros floridos e possuiriam paredes transparentes e coloridas, feitas de material semelhante ao vidro que permitiriam a visão das flores no exterior embora, do lado de fora não se possa ver o que acontece dentro das residências. As portas seriam feitas de metal. Uma única língua seria falada em todo o planeta.

Assim como Hercílio-Ramatis afirmam na obra “A Vida no Planeta Marte…”, Leadbeater disse ter obtido suas informações com visitas ao local, feitas “espiritualmente”. Em nosso ponto-de-vista, uma afirmação feita com o fito de passar credibilidade.

Conclusão

O prezado leitor tirará suas conclusões, sendo que apresentamos esse tese tendo em vista as enormes e evidentes semelhanças entre as ideias teosóficas, particularmente as contidas nas obras de Leadbeater, e os conceitos e informações contidas nas obras cuja autoria é atribuída ao espírito Ramatis. Cabe notar, também, que boa parte de tais ideias não são repetidas em livros psicografados por outros médiuns de Ramatis, que inclusive já fizeram análises atribuindo tais discrepâncias a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.

Portanto, ao que parece, não é possível saber, ao certo, a quem pertence a autoria dos livros de Hercílio Maes: se ao médium, que teria passado para o papel, coincientemente ou não, opiniões suas advindas da leitura de obras teosóficas, ou se ao Espírito, que, de qualquer forma, teria feito o mesmo, atribuindo a si toda a autoria. Poderíamos, inclusive, chegar ao ponto de duvidar que realmente exista um espírito chamado Ramatis, já que não há qualquer traço indicativo ou registro histórico que aponte que o mesmo tenha alguma vez passado pela Terra.

Creio estar na hora de não perdermos mais tempo com suposições e teorias que em nada acrescentam ao Espiritismo. Pelo contrário, tais teorias meramente individuais e personalistas, advindas de certos espíritos e médiuns, que contrariam a Codificação Espírita e que não respeitam o princípio da concordância, só promovem a confusão e lançam o Espiritismo ao ridículo, tornando-o alvo fácil das investidas de seus inimigos ocultos e declarados.

Não fosse pelo esforço de alguns verdadeiros apóstolos do Espiritismo no passado a alertar para os perigos de se aceitar tudo que venha do mundo espiritual, com certeza teríamos um Movimento Espírita ainda mais afastado das suas bases e envolto em um emaranhado de distorções e desvios.

Trabalhemos, pois, para que o Espiritismo passe a ser melhor compreendido, começando de nós mesmos com a tarefa que temos de sermos divulgadores fiéis e responsáveis.

Herculano Pires e Ramatis outubro 21, 2008

Posted by arturf in Allan Kardec, escala espírita, espíritos pseudo-sábios, Herculano Pires, ocultismo, Teosofia, Umbanda, USE.
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Começaremos com J. Herculano Pires(1914-1979), jornalista, filósofo, poeta, tradutor e pensador espírita paulista.

É considerado o maior pensador espírita do Brasil e um dos maiores intérpretes do pensamento kardeciano.

Chamado de “O Guarda Noturno do Espiritismo”, foi um dos grandes defensores do caráter cultural e filosófico do Espiritismo, tendo travado memoráveis polêmicas com detratores da Doutrina Espírita.

Fundador da União Social Espírita (atual USE), entusiasta da educação espírita, Herculano escreveu mais de 80 obras sobre inúmeros temas. Foi presidente do Sindicato Estadual dos Jornalistas de São Paulo.

Obras: O Reino; Espiritismo Dialético; O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte; O Espírito e o Tempo; Revisão do Cristianismo; Agonia das Religiões; O Centro Espírita; Curso Dinâmico de Espiritismo; Mediunidade; Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas; Pesquisa Sobre o Amor.

Vamos, agora, aos seus comentários críticos sobre Ramatis e quejandos:

“Faz-se, em geral, muita confusão a propósito de Espiritismo. Há confusões intencionais, promovidas por elementos interessados em combater a propagação inevitável da Doutrina, e há confusões inocentes, feitas por pessoas de reduzido conhecimento doutrinário. As primeiras, as intencionais, não seriam funestas, porque facilmente identificáveis quanto ao seu objetivo, se não houvesse confusões inocentes, que preparam o terreno para aquelas explorações.

Os Centros Espíritas têm um grande papel a desempenhar na luta pelo esclarecimento do povo, devendo promover constantes programas de combate a todas as formas de confusão doutrinária. Por isso mesmo, devem ser dirigidos por pessoas que conheçam a Doutrina, que a estudem incessantemente e que não se deixem levar por sugestões estranhas. Quando os dirigentes de Centro não se sentirem bastante informados dos princípios doutrinários, devem revestir-se, pelo menos, da humildade suficiente para recorrerem aos conselhos de pessoas mais esclarecidas e à leitura de textos orientadores.

Há um pequeno livro de Kardec que muitos dirigentes desprezam, limitando-se a aconselhar a sua leitura aos leigos e principiantes: exatamente “O Principiante Espírita”. Esse livrinho é precioso orientador doutrinário, que os dirigentes devem ler sempre. Outro pequeno volume aconselhável é “O Que É o Espiritismo”, também de Kardec. Principalmente agora, nesta época de confusões que estamos atravessando, os dirigentes de Centros, Grupos Familiares e demais organizações doutrinárias, deviam ter esses livros como leitura diária, obrigatória.

Além das confusões habituais entre Umbanda e Espiritismo, Esoterismo, Teosofia, Ocultismo e Espiritismo, há outras formas de confusão que vêm sendo amplamente espalhadas no meio espírita. São as confusões de origem mediúnica, oriundas de comunicações de espíritos que se apresentam como grandes instrutores, dando sempre respostas e informações sobre todas as questões que lhes forem propostas. Um exemplo marcante é o de Ramatis, cujas mensagens vêm sendo fartamente distribuídas.

Qualquer estudioso da Doutrina percebe logo que se trata de um espírito pseudo-sábio, segundo a “escala espírita” de Kardec. Não obstante, suas mensagens estão assumindo o papel de sucedâneos das obras doutrinárias, levando até mesmo oradores espíritas a fazerem afirmações ridículas em suas palestras, com evidente prejuízo para o bom conceito do movimento espírita.

Não é de hoje que existem mensagens dessa espécie. Desde todos os tempos, espíritos mistificadores, os falsos profetas da erraticidade, como dizia Kardec, e espíritos pseudo-sábios, que se julgam grandes missionários, trabalham, consciente ou inconscientemente, na ingrata tarefa de ridicularizar o Espiritismo. Mas a responsabilidade dos que aceitam e divulgam essas mensagens não é menor do que a dos espíritos que as transmitem.

Por isso mesmo, é necessário que os confrades esclarecidos não cruzem os braços diante dessas ondas de perturbação, procurando abrir os olhos dos que facilmente se deixam levar por elas.

O Espiritismo é uma doutrina de bom senso, de equilíbrio, de esclarecimento positivo dos problemas espirituais, e não de hipóteses sem base ou de suposições imaginosas. As linhas seguras da Doutrina estão na Codificação Kardeciana.

Não devemos nos esquecer de que a Codificação representa o cumprimento da promessa evangélica do Consolador, que veio na hora precisa.

Deixar de lado a Codificação, para aceitar novidades confusas, é simples temeridade. Tanto mais quando essas novidades, como no caso de Ramatis, são mais velhas do que a própria Codificação.”

Herculano e as bases para um pleno entendimento doutrinário

“O estudo e os debates devem cingir-se às obras da Codificação. Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. Seria o mesmo que, num curso de especialização em Pedagogia, passar-se a ler e discutir assuntos de Mecânica, a pretexto de variar os temas. O aprendizado doutrinário requer unidade e seqüência, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina. Todas as obras de Kardec devem constar desses trabalhos, desde os livros iniciáticos, passando pela Codificação propriamente dita, até os volumes da Revista Espírita.

Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec. Porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-la com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superam o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demostrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec, não podem substituí-lo. É bom lembrar a regra do “consenso Universal”, segundo o qual nenhum espírito ou criatura humana dispõem, sozinhos, por si mesmos, de recursos e conhecimentos para nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações individuais pertence ao passado, aos tempos anteriores ao advento da Doutrina. Um novo ensinamento, a revelação de uma “verdade nova” depende das exigência doutrinária de:

a) Concordância universal de manifestações a respeito;

b) Concordância da questão com os princípios básicos da Doutrina:

c) Concordância com os princípios culturais do estágio de conhecimento atingido pelo nosso mundo;

d) Concordância com os princípios racionais, lógicos e logísticos do nosso tempo.

Fora desse quadro de concordâncias necessárias, que constituem o “consenso Universal”, nada pode ser aceito como válido. Opiniões pessoais, sejam de sábios terrenos ou do mundo espiritual, nada valem para a Doutrina. O mesmo ocorre nas Ciências e em todos os ramos do Conhecimento na Terra. Porque o Conhecimento é uma estrutura orgânica, derivada da estrutura exterior da realidade e nunca sujeita a caprichos individuais.

Por isso é temeridade aceitar-se e propagar-se princípios deste espírito ou daquele homem como se fossem elementos doutrinários. Quem se arrisca a isso revela falta de senso e falta absoluta de critério lógico, além de falta de convicção doutrinária. O Espiritismo não é uma doutrina fechada ou estática, mas aberta ao futuro. Não obstante, essa abertura está necessariamente condicionada as regras de equilíbrio e de ordem que sustentam a verdade e a eficácia da sua estrutura doutrinária.

Como a Química, a Física, a Biologia e as demais Ciências, o Espiritismo não é imutável, está sujeito às mudanças que devem ocorrer com o avanço do conhecimento espírita. Mas como em todas as Ciências, esse avanço está naturalmente subordinado às exigências do critério racional, da comprovação objetiva por métodos científicos e do respeito ao que podemos chamar de “natureza da doutrina”.

Introduzir na doutrina práticas provenientes de correntes espiritualistas anteriores a ela seria o mesmo que introduzir na Química as superadas práticas da Alquimia. As Ciências são organismos conceptuais da cultura humana, caracterizados pela sua estrutura própria e pelas leis naturais do seu crescimento, como ocorre com os organismo biológicos.

Todos nós ainda trazemos a “herança empírica” do passado anterior ao desenvolvimento da cultura científica, e somos às vezes tentados a realizar façanhas cientificas para as quais não estamos aptos. E como todos somos naturalmente vaidosos, facilmente nos entusiasmamos com a suposta possibilidade de nos tornarmos renovadores doutrinários. Nascem daí as mistificações como a de Roustaing, tristemente ridícula, a que muitas pessoas se apegam emocionalmente, o que as torna fanáticas e incapazes de perceber os enormes absurdos nelas contidos. Até mesmo pessoas cultas, respeitáveis, deixam-se levar por essas mistificações, por falta de humildade intelectual e de critérios científicos. Espíritos opiniáticos ou sectários de religiões obscurantistas aproveitam-se disso para introduzir essas mistificações em organizações doutrinárias prestigiosas, com a finalidade de ridicularizar o Espiritismo e afastar dele as pessoas sensatas que sabem subordinar a emoção à razão e que muito poderiam contribuir para o verdadeiro desenvolvimento da doutrina.

Por tudo isso, as manifestações mediúnicas em sessões doutrinárias devem ser recebidas sempre com espírito crítico. Aceitá-las como verdades reveladas é abrir as portas à mistificação, à destruição da própria finalidade dessas sessões. Também por isso, o dirigente dessas sessões deve ser uma pessoa de espírito arejado, racional, objetivo, capaz de conduzir os trabalhos com segurança. Kardec é sempre a pedra de toque para verificação das supostas revelações que ocorrem. O pensamento espírita é sempre racional, avesso ao misticismo. Os espíritos comunicantes, em geral, são de nível cultural mais ou menos semelhantes ao das pessoas presentes. Não devem ser encarados como seres sobrenaturais pois não passam de criaturas humanas desencarnadas, na maioria apegadas aos seus preconceitos terrenos, a morte não promove ninguém a sábio nem confere aos espíritos autoridade alguma em matéria de doutrina. Por outro lado, os espíritos realmente superiores só se manifestam dentro das condições culturais do grupo, não tendo nenhum interesse em destacar-se como geniais antecipadores de descobertas cientificas que cabe aos encarnados e não a eles fazerem. A idéia do sobrenatural, nas relações mediúnicas, é a fonte principal das mistificações.

Homens e espíritos vaidosos se conjugam nas tentativas pretensiosas de superação doutrinária. Se não temos ainda, no mundo inteiro, instituições espíritas à altura da doutrina, isso se deve principalmente à vaidade e à invigilância dos homens e espíritos que se julgam mais do que são. Nesta hora de muitas novidades, é bom verificarmos que as maiores delas já foram antecipadas pelo Espiritismo. É ele, o Espiritismo, a maior novidade dos novos tempos. Se tomarmos consciência disso, evitaremos os absurdos que hoje infestam o meio doutrinário e facilitaremos o desenvolvimento real da doutrina em bases racionais.”

Livros de Herculano Pires

Herculano Pires e Ramatis outubro 21, 2008

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Começaremos com J. Herculano Pires(1914-1979), jornalista, filósofo, poeta, tradutor e pensador espírita paulista.

É considerado o maior pensador espírita do Brasil e um dos maiores intérpretes do pensamento kardeciano.

Chamado de “O Guarda Noturno do Espiritismo”, foi um dos grandes defensores do caráter cultural e filosófico do Espiritismo, tendo travado memoráveis polêmicas com detratores da Doutrina Espírita.

Fundador da União Social Espírita (atual USE), entusiasta da educação espírita, Herculano escreveu mais de 80 obras sobre inúmeros temas. Foi presidente do Sindicato Estadual dos Jornalistas de São Paulo.

Obras: O Reino; Espiritismo Dialético; O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte; O Espírito e o Tempo; Revisão do Cristianismo; Agonia das Religiões; O Centro Espírita; Curso Dinâmico de Espiritismo; Mediunidade; Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas; Pesquisa Sobre o Amor.

Vamos, agora, aos seus comentários críticos sobre Ramatis e quejandos:

“Faz-se, em geral, muita confusão a propósito de Espiritismo. Há confusões intencionais, promovidas por elementos interessados em combater a propagação inevitável da Doutrina, e há confusões inocentes, feitas por pessoas de reduzido conhecimento doutrinário. As primeiras, as intencionais, não seriam funestas, porque facilmente identificáveis quanto ao seu objetivo, se não houvesse confusões inocentes, que preparam o terreno para aquelas explorações.

Os Centros Espíritas têm um grande papel a desempenhar na luta pelo esclarecimento do povo, devendo promover constantes programas de combate a todas as formas de confusão doutrinária. Por isso mesmo, devem ser dirigidos por pessoas que conheçam a Doutrina, que a estudem incessantemente e que não se deixem levar por sugestões estranhas. Quando os dirigentes de Centro não se sentirem bastante informados dos princípios doutrinários, devem revestir-se, pelo menos, da humildade suficiente para recorrerem aos conselhos de pessoas mais esclarecidas e à leitura de textos orientadores.

Há um pequeno livro de Kardec que muitos dirigentes desprezam, limitando-se a aconselhar a sua leitura aos leigos e principiantes: exatamente “O Principiante Espírita”. Esse livrinho é precioso orientador doutrinário, que os dirigentes devem ler sempre. Outro pequeno volume aconselhável é “O Que É o Espiritismo”, também de Kardec. Principalmente agora, nesta época de confusões que estamos atravessando, os dirigentes de Centros, Grupos Familiares e demais organizações doutrinárias, deviam ter esses livros como leitura diária, obrigatória.

Além das confusões habituais entre Umbanda e Espiritismo, Esoterismo, Teosofia, Ocultismo e Espiritismo, há outras formas de confusão que vêm sendo amplamente espalhadas no meio espírita. São as confusões de origem mediúnica, oriundas de comunicações de espíritos que se apresentam como grandes instrutores, dando sempre respostas e informações sobre todas as questões que lhes forem propostas. Um exemplo marcante é o de Ramatis, cujas mensagens vêm sendo fartamente distribuídas.

Qualquer estudioso da Doutrina percebe logo que se trata de um espírito pseudo-sábio, segundo a “escala espírita” de Kardec. Não obstante, suas mensagens estão assumindo o papel de sucedâneos das obras doutrinárias, levando até mesmo oradores espíritas a fazerem afirmações ridículas em suas palestras, com evidente prejuízo para o bom conceito do movimento espírita.

Não é de hoje que existem mensagens dessa espécie. Desde todos os tempos, espíritos mistificadores, os falsos profetas da erraticidade, como dizia Kardec, e espíritos pseudo-sábios, que se julgam grandes missionários, trabalham, consciente ou inconscientemente, na ingrata tarefa de ridicularizar o Espiritismo. Mas a responsabilidade dos que aceitam e divulgam essas mensagens não é menor do que a dos espíritos que as transmitem.

Por isso mesmo, é necessário que os confrades esclarecidos não cruzem os braços diante dessas ondas de perturbação, procurando abrir os olhos dos que facilmente se deixam levar por elas.

O Espiritismo é uma doutrina de bom senso, de equilíbrio, de esclarecimento positivo dos problemas espirituais, e não de hipóteses sem base ou de suposições imaginosas. As linhas seguras da Doutrina estão na Codificação Kardeciana.

Não devemos nos esquecer de que a Codificação representa o cumprimento da promessa evangélica do Consolador, que veio na hora precisa.

Deixar de lado a Codificação, para aceitar novidades confusas, é simples temeridade. Tanto mais quando essas novidades, como no caso de Ramatis, são mais velhas do que a própria Codificação.”

Herculano e as bases para um pleno entendimento doutrinário

“O estudo e os debates devem cingir-se às obras da Codificação. Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. Seria o mesmo que, num curso de especialização em Pedagogia, passar-se a ler e discutir assuntos de Mecânica, a pretexto de variar os temas. O aprendizado doutrinário requer unidade e seqüência, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina. Todas as obras de Kardec devem constar desses trabalhos, desde os livros iniciáticos, passando pela Codificação propriamente dita, até os volumes da Revista Espírita.

Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec. Porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-la com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superam o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demostrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec, não podem substituí-lo. É bom lembrar a regra do “consenso Universal”, segundo o qual nenhum espírito ou criatura humana dispõem, sozinhos, por si mesmos, de recursos e conhecimentos para nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações individuais pertence ao passado, aos tempos anteriores ao advento da Doutrina. Um novo ensinamento, a revelação de uma “verdade nova” depende das exigências doutrinárias de:

a) Concordância universal de manifestações a respeito;

b) Concordância da questão com os princípios básicos da Doutrina:

c) Concordância com os princípios culturais do estágio de conhecimento atingido pelo nosso mundo;

d) Concordância com os princípios racionais, lógicos e logísticos do nosso tempo.

Fora desse quadro de concordâncias necessárias, que constituem o “consenso Universal”, nada pode ser aceito como válido. Opiniões pessoais, sejam de sábios terrenos ou do mundo espiritual, nada valem para a Doutrina. O mesmo ocorre nas Ciências e em todos os ramos do Conhecimento na Terra. Porque o Conhecimento é uma estrutura orgânica, derivada da estrutura exterior da realidade e nunca sujeita a caprichos individuais.

Por isso é temeridade aceitar-se e propagar-se princípios deste espírito ou daquele homem como se fossem elementos doutrinários. Quem se arrisca a isso revela falta de senso e falta absoluta de critério lógico, além de falta de convicção doutrinária. O Espiritismo não é uma doutrina fechada ou estática, mas aberta ao futuro. Não obstante, essa abertura está necessariamente condicionada as regras de equilíbrio e de ordem que sustentam a verdade e a eficácia da sua estrutura doutrinária.

Como a Química, a Física, a Biologia e as demais Ciências, o Espiritismo não é imutável, está sujeito às mudanças que devem ocorrer com o avanço do conhecimento espírita. Mas como em todas as Ciências, esse avanço está naturalmente subordinado às exigências do critério racional, da comprovação objetiva por métodos científicos e do respeito ao que podemos chamar de “natureza da doutrina”.

Introduzir na doutrina práticas provenientes de correntes espiritualistas anteriores a ela seria o mesmo que introduzir na Química as superadas práticas da Alquimia. As Ciências são organismos conceptuais da cultura humana, caracterizados pela sua estrutura própria e pelas leis naturais do seu crescimento, como ocorre com os organismo biológicos.

Todos nós ainda trazemos a “herança empírica” do passado anterior ao desenvolvimento da cultura científica, e somos às vezes tentados a realizar façanhas cientificas para as quais não estamos aptos. E como todos somos naturalmente vaidosos, facilmente nos entusiasmamos com a suposta possibilidade de nos tornarmos renovadores doutrinários. Nascem daí as mistificações como a de Roustaing, tristemente ridícula, a que muitas pessoas se apegam emocionalmente, o que as torna fanáticas e incapazes de perceber os enormes absurdos nelas contidos. Até mesmo pessoas cultas, respeitáveis, deixam-se levar por essas mistificações, por falta de humildade intelectual e de critérios científicos. Espíritos opiniáticos ou sectários de religiões obscurantistas aproveitam-se disso para introduzir essas mistificações em organizações doutrinárias prestigiosas, com a finalidade de ridicularizar o Espiritismo e afastar dele as pessoas sensatas que sabem subordinar a emoção à razão e que muito poderiam contribuir para o verdadeiro desenvolvimento da doutrina.

Por tudo isso, as manifestações mediúnicas em sessões doutrinárias devem ser recebidas sempre com espírito crítico. Aceitá-las como verdades reveladas é abrir as portas à mistificação, à destruição da própria finalidade dessas sessões. Também por isso, o dirigente dessas sessões deve ser uma pessoa de espírito arejado, racional, objetivo, capaz de conduzir os trabalhos com segurança. Kardec é sempre a pedra de toque para verificação das supostas revelações que ocorrem. O pensamento espírita é sempre racional, avesso ao misticismo. Os espíritos comunicantes, em geral, são de nível cultural mais ou menos semelhantes ao das pessoas presentes. Não devem ser encarados como seres sobrenaturais pois não passam de criaturas humanas desencarnadas, na maioria apegadas aos seus preconceitos terrenos, a morte não promove ninguém a sábio nem confere aos espíritos autoridade alguma em matéria de doutrina. Por outro lado, os espíritos realmente superiores só se manifestam dentro das condições culturais do grupo, não tendo nenhum interesse em destacar-se como geniais antecipadores de descobertas cientificas que cabe aos encarnados e não a eles fazerem. A idéia do sobrenatural, nas relações mediúnicas, é a fonte principal das mistificações.

Homens e espíritos vaidosos se conjugam nas tentativas pretensiosas de superação doutrinária. Se não temos ainda, no mundo inteiro, instituições espíritas à altura da doutrina, isso se deve principalmente à vaidade e à invigilância dos homens e espíritos que se julgam mais do que são. Nesta hora de muitas novidades, é bom verificarmos que as maiores delas já foram antecipadas pelo Espiritismo. É ele, o Espiritismo, a maior novidade dos novos tempos. Se tomarmos consciência disso, evitaremos os absurdos que hoje infestam o meio doutrinário e facilitaremos o desenvolvimento real da doutrina em bases racionais.”

Livros de Herculano Pires